Na Antiguidade a nudez era percebida de forma bem diferente da nossa. O conceito de obscenidade era desconhecido. Muitas vezes as imagens dos órgãos sexuais masculinos e femininos eram exageradas, mas vistas com naturalidade. Muitos santuários espalhados pelo mundo mostram representações de vulvas e falos, inclusive com deuses possuidores de falos monumentais.
Mas isso mudou. São Jerônimo (347 – 420), alguns séculos depois, afirmou que uma virgem adulta jamais devia banhar-se e, na verdade, devia envergonhar-se de ver sua própria nudez. Na Idade Média, mesmo no casamento, o nu coloca a pessoa numa situação perigosa. A representação de cônjuges nus em um leito pode ser percebida como um sinal de luxúria.
No século 19, na Inglaterra, a nudez total, por ocasião do dever conjugal, é considerada o cúmulo da obscenidade. Era comum os casais jamais terem se visto sem roupa. Há registros de camisolas com furos na altura da vagina por onde o homem penetrava a mulher. Francisco I, rei das Duas Sicílias ao visitar a exposição do Museu Nacional, em 1819, com sua esposa e filha, ficou tão envergonhado com o nu de algumas obras de arte que decidiu escondê-las numa câmara secreta, acessível apenas a pessoas de idade mais avançada e "consciência moral".
No século 20, a descoberta do corpo está diretamente ligada ao progresso da higiene íntima. Mesmo assim as pessoas ainda não ousavam se mostrar nuas. Entre as duas guerras, as proibições da Igreja e da medicina perdem a força. Quando as mulheres começaram a usar maiôs e a andar de bicicleta, o corpo foi aos poucos se revelando. Entretanto, a mudança de mentalidade não ocorre ao mesmo tempo para todos. Há casos de repressão à nudez e situações que mostram a aceitação cada vez maior do corpo nu como algo natural.
Por: Regina Navarro Lins
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